Que evolução estarmos discutindo a qualidade das ciclovias!

Renata Falzoni, Renato Cymbalista e Lino Bocchini

Renata Falzoni, Renato Cymbalista e Lino Bocchini

Nesta terça-feira, 07 de abril, a revista Carta Capital realizou o debate “Ciclovias em São Paulo” com a jornalista e cicloativista Renata Falzoni e o professor de História do Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP) Renato Cymbalista, mediados por Lino Bocchini, editor de mídia online da revista.

O debate ficou mais acalorado quando uma menina da platéia, depois de fazer perguntas e observações com um olhar diferente dos que lá estavam, se identificou como filha da promotora Camila Mansour Magalhães da Silveira. “Eu peço desculpas porque não conhecia o lado de vocês, só o lado do Ministério Público, mas fico desconfortável com a maneira como vocês imaginam que seja a vida dessa promotora.” – disse a menina.

“Se eu vou num concerto de música clássica, eu aprecio, mas não tenho competência para   opinar ou criticar aquela música” – disse Renata, comparando a falta de preparo e competência da promotora em falar sobre o não conhece. “Ela não conhece a pesquisa origem e destino do metrô, que diz que 30% dos deslocamentos são feitos a pé. E só 20% das pessoas se locomovem de carro poluindo, matando, atropelando e ocupando 80% dos 17.000 km de vias da cidade!”

Renata também fez um histórico de todas as gestões passadas, desde a época do Jânio Quadros, que proibiu bicicletas no Ibirapuera e skates nas ruas, passando pelas gestões de Luiza Erundina, que prometeu uma ciclovia Ibirapuera-USP e nunca foi concluída, e Marta Suplicy, que tirou faixas de pedestres e aumentou a velocidade dos carros. “Em 1993 o Maluf desenhou 300km de ciclovias, exatamente onde essas estão passando e não executou nada, no final tínhamos 19 km dentro de parques. Nós, ciclistas,  que estamos há 40 anos nesse diálogo, conhecemos que toda vez que vem a argumentação de planejamento significa não fazer nada! ” – desabafa Renata.

Como são as ciclovias em algumas cidades do mundo.

Um item que foi discutido foi a qualidade das ciclovias, postes e imperfeições. Postes estão lá, desde que foram feitas. Na ciclovia da av. Faria Lima, cujo projeto existe desde 1998, entregue na gestão Kasssab tem poste. Tinha ponto de ônibus nela até o ano passado. Na ciclovia da Sumaré também. E nunca ninguém disse nada. ” Melhor ter um poste do que ser atropelado” – disse o advogado e ciclista João.

Poste na ciclovia da av. Sumaré. Foto: Ivson Miranda

Poste na ciclovia da av. Sumaré. Foto: Ivson Miranda

Poste na ciclovia Faria Lima

Poste na ciclovia Faria Lima. Foto: Rachel Schein

Ciclovia na av. Faria Lima em 2012. Arquivo Rachel Schein

Ciclovia na av. Faria Lima em 2012. Arquivo Rachel Schein

Em 2012, a ciclovia da av. Faria Lima era assim. Arquivo: Rachel Schein

Em 2012, a ciclovia da av. Faria Lima era assim. Arquivo: Rachel Schein

Poste na ciclovia compartilhada na Praça da República.

Poste na ciclovia na Praça da República.

Ciclovias nas calçadas fazem parte de qualquer sistema cicloviário de várias cidades do mundo. Aqui um exemplo de Buenos Aires, onde há bastante ciclovias compartilhadas. Pra quem for justificar Buenos Aires como uma cidade plana, segue o exemplo de Medellin, uma cidade tão caótica e mais montanhosa que São Paulo, onde muitas ciclovias são nas calçadas.

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Ciclovia compartilhada em Buenos Aires. Foto: Rachel Schein

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Calçada compartilhada em Buenos Aires. Foto: Rachel Schein

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Ciclovia compartilhada em Medellin. Foto: Rachel Schein

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Ciclovia compartilhada em Medellin. Foto: Rachel Schein

Uma boa sugestão no final do debate foi sobre as bicicletas compartilhadas, que deveriam ser disponibilizadas também no período noturno. ” Agora temos ônibus na madrugada. Por que não posso usar a bicicleta depois das 22h?” – questionou Felipe.

Outra colocação importante foi de Reginaldo Paiva, falando sobre a importância do contato visual, totalmente impossível quando se tem a película escura ( insulfilm) que não permite que o pedestre e o ciclista entendam as intenções dos motoristas.

Que evolução discutirmos a qualidade das ciclovias!

O fato é que as ciclovias incomodam muita gente, mas uma ponte de 220 milhões onde não circulam pedestres, ciclistas e transporte público não incomoda ninguém. Geralmente quem propaga essas informações são pessoas que não usam as ciclovias e não sabem da sua importância para garantir a segurança do ciclista. Buracos e imperfeições são problemas pontuais que devem ser melhorados com o tempo, mas nunca a política pública em prol de uma cidade mais democrática e mais humana deveria ser questionada.

Há pelo menos 4 anos participo de (quase) todas as discussões sobre mobilidade urbana e minhas questões sempre foram:

1 – Como trazer gente de fora pra esses debates, já que eram sempre as mesmas pessoas que falavam e éramos sempre os mesmos que ouvíamos.

2 – Quando iríamos mudar esse discurso, já que era longe a possibilidade de termos vontade política suficiente para realmente implantar um sistema cicloviário na cidade.

Quando vi muita gente desconhecida na plateia, conclui que finalmente conseguimos nos aproximar de mais gente, e que a própria implantação das ciclovias é a resposta para as duas questões.

Olha só que evolução: estamos discutindo a cor das ciclovias! Se tem buraco ou poste! Onde estão sendo implantadas. Olhando um pouquinho pra trás e pensando que há um ano nós nem imaginávamos que teríamos um centímetro de faixa vermelha,  acho que evoluímos bastante.

Para quem quiser assistir o debate na íntegra, segue o link:

 

 

 

 

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