São Paulo é imensa. Provavelmente se você viver 90 anos, não serão suficientes pra conhecer cada canto da cidade. Se andar de carro então, vai achar que São Paulo se resume ao Viaduto do Chá, av. Paulista, Faria Lima e Berrini e olhe lá. Vai continuar reclamando do trânsito, da poluição, da má qualidade de vida e das ciclovias. E pegando congestionamento pra passar o final de semana na praia, afinal o paulistano trabalha 24 horas por dia de segunda a sexta e merece um canto pra descansar no sábado e domingo, não é mesmo?
Fui ao Grajau, extrema zona sul da cidade algumas vezes. É por lá que cicloturistas passam para chegarem a Santos, na conhecida Rota Márcia Prado. Uma vez fui com esse intuito. A outra, para registrar a doação de bicicletas no Natal, iniciativa promovida por Andre Pasqualini, depois de estabelecer uma relação com a comunidade, de tanto fazer a rota . A terceira, não tão feliz: fomos colocar uma ghost bike na av. Belmira Marin para o sr. Noel Moreno, que morreu atropelado enquanto exercia seu direito de ocupar a via na sua bicicleta.
No feriado de 9 de julho fui dar um rolê para conhecer os grafites da região, um passeio que há muito tempo queria fazer. Foi lá que começou o movimento ” Imargem“, uma intervenção multidisciplinar que, reúne arte, cultura e meio ambiente para enfrentar o isolamento das comunidades que vivem às margens da Represa Billings.
O Imargem é conhecido pela arte urbana. Com certeza você já seus grafites espalhados pela cidade, mesmo que seja passando pela 23 de maio a uma velocidade para não “VER A CIDADE” ( uma das frases marcantes grafitadas pelo Imargem na cidade). Afinal, o que você deseja ver na cidade?
Pedalando na Belmira Marin ( uma aventura, pode-se dizer), sempre via um ônibus que ia para o ” Cantinho do Ceu”. Ficava curiosa pra saber onde era esse cantinho. Morariam anjos nesse lugar? Finalmente conheci. O Cantinho e os anjos que nele habitam. Uma cena ( somente uma) me fez lembrar imediatamente do filme do Jorge Furtado, Ilha das Flores. ( Apesar de não ser o tema deste texto, e de não ter nada a ver com tomates e polegar opositor, mas um pouco a ver pelo sistema que nos rege, são 13 minutos que vale muito a pena assistir).
Quem vê pensa que a ilha só são flores, e o cantinho é o céu, mas a vida é bem dura para quem mora nesses paraísos.
Segundo o site Imargem, “O Grajaú é o mais populoso dos 96 distritos paulistanos e o que apresenta as menores taxas de desenvolvimento, conforme os índices sociais do município medidos segundo quatro dimensões: autonomia, qualidade de vida, desenvolvimento humano e eqüidade.É, portanto, uma região habitada por pessoas – maioria crianças e jovens – que enfrentam, diariamente, imensas dificuldades, de diferentes naturezas.”
Uma delas certamente é a mobilidade e consequentemente o acesso à cidade. Pra se chegar lá é necessário enfrentar pelo menos 40 minutos de trem ( lotados nos horários de pico) fora os ônibus para completar o trajeto. Quem mora lá gasta pelo menos uma hora e meia para ir e outra hora e meia pra voltar.
Por isso a importância dos projetos de arte, cultura e convivência locais.
Os projetos da região
Mas tem a represa Billings que os cercam, um lugar realmente especial. E lá também moram pessoas especiais. Conheci alguns projetos:
O projeto ” Meninos da Billings, Remada na Quebrada” faz passeios de escuna na represa. Haverá passeios nos dias 12, 19 e 26 de julho, saindo da rua Flor de Cactos – Lago Azul, Grajau. O passeio custa R$50,00 por pessoa ( incluindo café da manhã) e o dinheiro arrecadado será revertido para projetos para a comunidade. O contato pra quem se interessar é 9 9121 3172.
A obra de Alexandre Orion, um artista que une o grafite e a fotografia e usa uma técnica surpreendente: a polugrafia. Em 2007, Alexandre notou que os túneis de São Paulo ficavam pretos de poluição e nunca eram limpos pela prefeitura. Limpando a própria sujeira, desenhava caveiras nos túneis.
O curioso é que a polícia parava mas nada podia fazer, afinal ele não estava ” deteriorando o patrimônio histórico” – se é que túneis devem ser considerados patrimônio histórico – pelo contrário, ele só estava limpando a sujeira da cidade.
Foi com essa técnica que ele desenhou a obra “Apreensão” no CEU Navegantes. Dependendo do ângulo que o grafite é visto, ele se mistura com a paisagem local e chama atenção para a questão da moradia e a desapropriação de algumas casas no entorno da represa. Sensacional, não é?
Alexandre também fez intervenções nas lonas da feira que funciona 24 horas no Cantinho do Céu.
Conheci também o projeto de urbanização do Complexo Cantinho do Ceu, realizado em 2008 pelo escritorio de arquitetura Boldarini, que, com o tempo sofreu intervenções do grafite, claro!
Terminei o passeio curtindo um final de tarde lindo na Casa Ecoativa – que fica na Ilha do Bororé, logo após a primeira balsa – um centro de eco-cultura. Entre atividades como saraus, contação de histórias, oficinas de artes e construção de cisternas, no último dia 07 de julho, a Casa promoveu um mutirão de limpeza no entorno da represa. Veja fotos aqui.
A ilha também respira arte, história e grafite.
Então, o que a gente escolhe ver na cidade?
Fotos: Rachel Schein
Agradecimentos a Wellington Neri, Thiago Ritual e Mona Caron.
Rachel,
Que texto muito bem feito! As imagens, os vídeos e os dados trazidos caíram muito bem para mostrar o potencial que a bike tem para mostrar uma nova cidade. E todos são muito interessantes. Já conhecia a polugrafia feita nos túneis, mas não o grafite “apreensão”. Junto com as outras imagens, ele é lindo!
Já procurei pelos grafites na ciclovia do rio pinheiros, mas pelo jeito preciso pedalar mais.. O cantinho do céu é um lugar que definitivamente quero conhecer! Como foi o acesso até ele? Foi acompanhada pelo Imargem?
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Sim, Cesar! Se quiser te coloco em contato com o Tim, do Imargem. Até cheguei a comentar com ele sobre grupos de passeio pra fazer esse tour.Bj
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Oi Rachel! Também sou ciclista urbana e recentemente montei um blog para falar mais sobre a minha experiência com bikes na cidade e tantas outras histórias emocionantes. Andei pesquisando blogs e achei o seu por aqui. Adorei o texto, parabéns!! Um dia podemos marcar de fazer um rolê como esse juntas, já que sou iniciante no meio! Bjs e dá uma olhadinha na minha página: http://www.lamanacanela.com.br 😉
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claro! vamos combinar! vou olhar sua página! bjs e obrigada! 🙂
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Parabéns! ficou massa o texto! traz um lindo olhar para região e mostra seu potencial! lindo!
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Obrigada! 🙂
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Rachel, o Cantinho do Ceu tem de tudo um pouco, ate grupo de jovens voluntarios tem por aqui.Visite o grupo no facebook https://www.facebook.com/groups/749749935050034/ Voluntarios da Vida.
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vou olhar, Roseli, obrigada!
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Me emocionei com seu texto achei muito bom contar um pouco da história do Grajaú para o mundo ele realmente precisa ser visto pelas pessoas para que os governantes invistam nele e deixe de ser esquecido por eles. Vivo aqui desde que nasci a quase 18 anos, as vezes falo mau , chingo , mas um dia que eu fico longe daqui moro de saudades e não vejo a hora de voltar pra minha quebrada sz #JD.prainha #JD.MonteVerde #Grajaú #SãoPaulo #SP #Salve
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eu vou voltar com certeza Edson! 😀
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Moro no cantinho do céu e achei liiiiiiiiiiinda a forma que você contou a história do grajaú! parabéns!!!
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Obrigada Valquiria!
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Raquel, tudo bem? Achei sua foto do grafite da criança ótima e gostaria de saber se poderia usá-la numa divulgação no Portal Aprendiz do Fórum de Direitos das Crianças e Adolescentes no Grajaú, dando créditos para fonte. Se puder, meu e-mail é pedronogueira@aprendiz.org.br. Obrigado e parabéns!
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oi Pedro, desculpa, troquei de computador e nao lembrava a senha do blog, porque criei um email pra criar a conta e tambem nao lembrava a senha do email, sente só o drama. só agora li seu comentario. desculpa!!! se ainda servir, pode usar sim! bj obrigada
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