Porque a av. Paulista deve ser aberta aos domingos.

Paulista aberta no dia 28 de junho

Paulista aberta no dia 28 de junho. Foto: Rachel Schein

Tô aqui digerindo e pensando em como amenizar o que foi dito no evento promovido pelo Rotary Club para discutir sobre o futuro da av. Paulista aos domingos. Me lembrei muito daquele episódio do metrô em Higienópolis, que um morador disse que levaria gente diferenciada para o bairro.

Basicamente foi isso. Algumas associações como a Paulista Viva, a Ciclocidade e alguns técnicos de trânsito, da PMSP, do sindicato dos hospitais e moradores do edifício 171 ( número fictício) discutiram sobre a abertura da av. Paulista aos domingos.

Reunião para discutir abertura da av. Paulista em 30/07

Reunião para discutir abertura da av. Paulista em 30/07

Depois do engenheiro de tráfego e gestor de trânsito João Cucci Neto dizer ser absolutamente possível deixar a av. Paulista aberta para a circulação de pessoas e de falarem sobre a reportagem que mostra que a maioria dos hospitais não são contra a abertura da Paulista, Daniel Guth, representando a Ciclocidade fez um cálculo da divisão do espaço, totalmente injusto, já que 78.000 pessoas passam de carro por dia pela av. Paulista x um milhão e meio de pedestres.

https://www.facebook.com/paginadarachel/videos/vb.303828269741887/416009341857112/?type=2&theater

Pérolas como ” não ando de transporte público porque é um nojo, calçadas foram feitas para pessoas e ruas para carros, ah, mas na Holanda é diferente, sou assaltada por ciclistas e atropelada por skatistas ( ou seria ao contrário), esse pessoal que fica cheirando maconha, atrai morador de rua, tive que arrastar minha mala a pé no dia que a Paulista fechou, a gente é a favor desde que seja em Cidade Tiradentes, vocês já conseguiram a ciclovia, não tá bom?” e a maior de todas: “não tem ciclista na ciclovia da Paulista”.

O fato é que as pessoas não conseguem pensar no coletivo. Esquecem-se de que o apartamento delas é privado, mas a rua é pública.

Não vou discorrer uma a uma pra não me demorar aqui, mas algumas delas merecem ser destacadas:

“Não ando de transporte público porque é um nojo”

Eu não tenho carro há 4 anos e tenho usado bastante o transporte público. Posso dizer que melhorou e muito, tanto no tempo de deslocamento quanto na qualidade. Desculpa, pra quem mora longe, o ônibus ainda deixa muito a desejar, principalmente na hora do rush, mas quem mora no centro expandido não tem o direito de reclamar. É justamente onde há mais oferta e menos demanda. Agora, quanto a “ser um nojo”, acho que foi um comentário um tanto quanto preconceituoso.

Calçadas foram feitas pra pessoas e ruas para carros”

Acho engraçada essa divisão. Provavelmente quem esteve nessa reunião já foi ao Rio de Janeiro e achou lindo passear na orla que simplesmente abre para a circulação de pessoas todos os domingos praticamente do aeroporto ao Leblon. E ninguem perde o vôo por causa disso. “O trânsito se reorganiza” –  segundo João.

Fotos aqui. 

A Paulista é a nossa praia. Não tem avenida mais agradável para passear. Prova disso é o sucesso que foi a inauguração da ciclovia e a abertura da avenida para as pessoas no dia 28 de junho. A rua é um espaço de troca, de convivência, de crianças, que com o tempo foi ocupada pelos carros.

Em várias cidades do mundo ruas são fechadas para os carros e abertas à população. O exemplo de Nova York foi citado por um dos debatedores: ” Cada domingo eles fazem uma feira numa avenida diferente da cidade”. ok. Mas a Times Square, que é a nossa Paulista, é fechada para os carros TODOS OS DIAS.

Segundo essa matéria, Bogotá ( Colômbia) abre 120 km de vias para as bicicletas aos domingos. Cento e vinte quilômetros! O movimento para que isso acontecesse começou ainda na década de 70.  Aqui discutimos 2,7km em pleno 2015!!!!

Em Medellin tive oportunidade de me surpreender durante minha viagem de metrô com essa rua de lazer, uma das que ficam abertas aos ciclistas aos domingos.

https://www.facebook.com/paginadarachel/videos/vb.303828269741887/415932095198170/?type=2&theater

“Ah, na Holanda é diferente/ Arrastei minha mala por dois quarteirões”

Pra quem tem ainda viaja pra fora e acha tudo lindo e acha que aqui não funciona, recomendo a leitura desse texto.

http://blog.daniduc.net/2009/09/14/da-relacao-direta-entre-ter-de-limpar-seu-banheiro-voce-mesmo-e-poder-abrir-sem-medo-um-mac-book-no-onibus/

Aqui só vai ser diferente o dia que a gente deixar de ser escravagista e sair um pouco da “caixa” pra aprender a conviver com a diferença. Aliás um dos argumentos usados por uma participante, moradora da av. Paulista. ” Temos que ter consciência coletiva” – disse ela.

Quanto a arrastar a mala, qualquer pessoa que more em qualquer cidade da Europa em ruas que já viraram calçadões ou foram fechadas para a circulação de carros com o tempo, arrasta a mala e inclusive sobe dois, três ou quatro andares carregando porque a maioria dos prédios não tem elevador.

Em Barcelona, criança leva mala no calçadão.

Em Barcelona, criança leva mala no calçadão. Acervo pessoal

Pra quem sugeriu tomar essa medida em Cidade Tiradentes, que seja também!

Mas uma coisa não exclui a outra. O fato é que TODOS QUEREM PASSEAR NA PAULISTA.

Quanto a levar ” pessoas diferenciadas”, uma cidade ocupada é uma cidade segura. Quanto mais gente nas ruas, mais segura uma cidade é.

“Não tem ciclista na Paulista/ Vocês já não conseguiram a ciclovia, não tá bom?”

Oras, podem dizer que não tem ciclista em qualquer ciclovia da cidade ( embora cada um enxergue o que quer – eu sempre vejo ciclistas passando), mas na Paulista? É so ficar ali aguardando o sinal abrir que dá pra ver um, dois, três, dez ciclistas ao mesmo tempo. Esse vídeo serve de exemplo.

https://www.facebook.com/paginadarachel/videos/vb.303828269741887/409484025842977/?type=2&theater

TODO MUNDO QUER PEDALAR NA PAULISTA!

TODO MUNDO QUER PASSEAR NA PAULISTA!

TODO MUNDO QUER DESFRUTAR DA AV. PAULISTA

( menos os moradores do 171).

POR ISSO ELA TEM QUE ABRIR NO DOMINGO!

Quanto a querermos mais que a ciclovia, a gente só tá tirando o atraso. 😉

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Paulista aberta no dia 28/06. Foto: Rachel Schein

 

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